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20 anos sem Patativa do Assaré: poeta pássaro segue referência
As referências e influências da trajetória artística de Patativa são tão diversas quanto a própria obra do artista
date_range06/07/2022 às 10:50

Foto: Dário Gabriel em 2/2/1997

O canto da patativa, ave presente em território brasileiro, é considerado um dos mais melodiosos entre os pássaros. O nome do animal foi dado como apelido ao jovem Antônio Gonçalves da Silva porque, falava-se, a poesia expressiva, fluida e terna que ele performava pelo interior cearense se assemelhava ao cantar da ave. À alcunha, o rapaz adicionou o nome da cidade natal: Patativa do Assaré. Um dos principais nomes da cultura brasileira, o poeta faleceu em 8 de julho de 2002, aos 93 anos, deixando de herança legados imensuráveis. O Vida&Arte esquadrinha a relevância da poética de Patativa a partir especialistas e artistas que compartilham referências e reverências ao "poeta pássaro".

No livro "Patativa do Assaré: Uma Biografia", o professor e pesquisador Gilmar de Carvalho (1949-2021) conta que o poeta, ao falar do canto da patativa, dizia: "Você escuta, você pensa que ali dentro daquela moita tem vários passarinhos cantando". Quando o artista assume o nome da ave, Gilmar vê na metáfora "camaleônica" uma "explicação para os múltiplos cantares" que ele trazia consigo. "Da dicção nos moldes da norma culta à poesia matuta, do telúrico ao social, do gracejo à sua desconhecida e renegada produção erótica", elenca.

As referências e influências da trajetória artística de Patativa são tão diversas quanto a própria obra do artista. "Por meio de diferentes temas de sua poética, vê-se a influência dele na música, na cantoria, na poesia e na literatura", aponta Socorro Pinheiro, professora de Letras e do Mestrado Interdisciplinar em História e Letras da Universidade Estadual do Ceará.

"Observa-se ecos da sua poesia, por exemplo, na obra de Moreira de Acopiara, Dalinha Catunda, Josenir Lacerda, Bráulio Bessa, entre outros. O poeta continua vivo nos desafios da viola, na poesia feita de repente, no cordel, na performance poética, no imaginário de tanta gente que se sente representada numa poesia que canta a vida e seus contrastes, sem, contudo, perder a paixão e a força", avalia a pesquisadora, co-autora, com Antonio Iraildo, do livro "Um Sertão Encantado: Homenagem aos 110 anos de Patativa do Assaré.

O cantador, violeiro, escritor e Mestre da Cultura do Ceará Geraldo Amâncio ressalta a importância do artista para a própria trajetória. "Há um lado na história do poeta Patativa do Assaré que a mídia não fala: ele foi cantador, fez cantoria por mais de quarenta anos", ressalta. "Nas cantorias do meu tempo, não havia declamações de poesia. Tudo começou depois do lançamento do livro ´Inspiração Nordestina´ (primeiro livro que reúne a obra poética de Patativa, lançado em 1956). O primeiro poema que declamei foi ´Chiquita e mãe veia´, que está no livro referido", segue Geraldo.

A referência direta a Patativa tornou-se depois uma relação de proximidade e parceria, já que os dois chegaram a circular em viagens por mais de 20 anos — memória que Geraldo cita como uma "honra e felicidade". "Particularmente, devo a ele muito do reconhecimento a mim atribuído. Por várias vezes, quando perguntavam a ele quem era o melhor cantador do Brasil, ele citava o meu nome", relembra.

Conterrâneo de Patativa, o cantor e sanfoneiro Caninana destaca a contemporaneidade da obra do poeta. "Ele já falava tudo aquilo que nós vivemos hoje, é o marco de um século por suas obras escritas justamente na defesa da natureza, no combate à fome, à miséria, no grito de liberdade do seu povo", desvela.

Para o artista, Patativa foi uma referência intransponível. "Ele, na sua grandeza e na genialidade poética dos versos, me inspirou a fazer versos de cordéis. A maioria das minhas composições é sempre em formato de soneto ou sextilhas", exemplifica o cantor.

Em "Pássaro Liberto", livro de 2011 também escrito por Gilmar de Carvalho, o professor escreve: "Por que em meio a tantos poetas violeiros e poetas populares Patativa do Assaré se destacou e se tornou referência? Por que tantos passaram e ele ficou?". A resposta do próprio pesquisador, precisa, ajuda a decifrar: "Por que Patativa vai ficar? Por ter trabalhado com afinco e determinação, não para construir uma carreira, mas pela necessidade de dizer o mundo".

Fonte: O Povo



Sobre
João Boaventura Neto, um jornalista que deixa um importante legado para a comunicação cearense. Passando por diversos veículos de comunicação da região, o Boaventura sempre responsável e atento às informações, tinha consciência do amor pelo jornalismo e a produção no Blog do Boa. Será eterno em nossos corações. Saudades!